08.10
postado por: Renata Marcon

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O maior artista pop do planeta enrola seu próprio cigarro e não possui uma escova de cabelo. Ed Sheeran permitiu que nós entrassemos em seu mundo por dia, onde em 24 horas é capaz de alcançar mais de dois milhões de visualizações em um único vídeo.

Ano passado, Ed Sheeran se encontrou sentado do lado de fora de uma porta trancada nas ruas de Compton. Ele tinha certeza de que estava no endereço certo, mas não havia como entrar ali. Ele já havia viajado através do distrito mais notório da Califórnia em sua bicicleta – passado por lojas de “um dólar” fechadas e tropeçado em bêbados – tarde da noite para gravar com The Game, protegido de ninguém mais ninguém menos que 50 Cent. Mas agora, tudo o que ele podia fazer era esperar.

Ele não teve nenhum problema no caminho, e isso só pode ter sido porque, em suas próprias palavras, ele nunca tem “nada que vale a pena roubar” além de sua mochila e seu velho violão. Ou talvez, a visão de um garoto ruivo com cabelo bagunçado de Framlingham fazendo barulho pela cidade (os Estados Unidos é o oitavo país mais perigoso de se viver, segundo uma pesquisa realizada em 2010) em sua bicicleta era algo tão impróprio que momentaneamente espantava qualquer bandido à espreita.
De qualquer forma, The Game eventualmente abriu a porta e demonstrou surpresa por Sheeran não estar tremendo de medo e com a cueca suja. É uma boa história.

E como várias outras histórias boas, não é totalmente verdade.

“Ele contou essa história pra tanta gente que eu só segui com ela,” Sheeran riu, tomando um bom gole de chá em seu camarim. “Eu fui para Compton, mas tenho um motorista particular lá. E quando The Game saiu do estúdio, tinha uma bicicleta perto de mim. Ele olhou para a bicicleta, olhou para mim e disse “Ow, entra aqui.” Ele riu e fez uma pausa. “Eu não contesto, porque se eu tivesse uma bicicleta, teria pedalado até lá.” É claro que ele teria. E é esse é o conhecimento que torna a história verídica, aquele floreio, tão perfeito, tão plausível que é quase mais verdadeiro que a versão real.

Isso revela não apenas um pouco da história sobre como Ed Sheeran alcançou a fama, de forma figurativa e também literal, mas também mostra como ele fez isso. Sua vida parece tão encantada quanto contraditória. Ele é o garoto que parece ainda pagar seu copo de cerveja com as moedas contadas, que galgou degrau por degrau a escada do estrelato pop, ele é o homem mais ligado na música, o trovador atacado pela crítica, que vendeu quatro milhões de cópias com seu álbum de estréia. Cross Compton em uma BMX? Porque diabos isso não poderia acontecer?

DIRETO DE SUFFOLK

Mais cedo naquele dia, Ed decidiu passear por nosso estúdio – um bar com chão grudento em Camden, que coincidentemente, ele costumava tocar – abriu um Redbull e entrou de cabeça em nossa sessão de fotos, que incluia se contorcer dentro de uma caixa debaixo de fortes holofotes. Na vida real, ele é provavelmente mais alto e mais magro do que você imagina, com tuchos de barba ruiva desbotados em seu queixo, aqueles braços tão coloridos por tatuagens que parecem livros de criança (sério, tem um gato, um quadro do Van Gogh, uma cabeça de Lego, um esquilo…) uma clara demonstração de bom humor que não se espera de alguém que um dia antes desembarcou de um avião que vinha da Austrália.

É uma evidência que o dubstep presente na música moderna o acompanha.
Antes de viajar para a Austrália, Ed esteve dois meses tocando sem parar em estádios lotados nos Estados Unidos – parte de uma turnê maior ainda que incluiu três shows com bilheteria esgotada no Madison Square Garden e no Pyramid Stage de Glastonbury esse ano. Depois, ainda fez o Live Lounge da Radio 1 (BBC) e uma apresentação para a Amazon. Então, foi para Dublin onde havia marcado uma sequência de shows, na correria entre as gigantes arenas da Irlanda e também do Reino Unido. Na noite de nossa entrevista? iTunes Festival. Quando as fotos terminaram, nós nos misturamos à equipe de Sheeran e então pudemos ter uma visão de como é estar do outro lado. Três horas antes da apresentação e já havia uma fila de fãs que dava toda a volta no prédio.

“Algumas delas estão aqui desde às 5h da manhã,” Ed comenta com naturalidade, apontando para algumas fãs que estavam mais perto das portas. “Tinha gente fazendo lição de casa na fila,” Stuart Camp, seu empresário, observou. Entre isso e outras situações que se tornam mais absurdas a cada dia – o álbum com venda mais rápida e maior do Reino Unido em 2014, tocado 23 milhões de vezes no Spotify em apenas uma semana – as coisas estão indo muito bem. Mas, voltando em 2010, nesse mesmo canto de Londres, a vida era muito diferente.

“Eu costumava dormir no sofá de um cara atrás da estação de Chalk Farm,” ele disse, alcançando um pacote de tabaco e se afundando num sofá. “E todo santo dia, eu terminava o show e ia pra esse lugar chamado Cafe Metro, onde eles faziam sanduíche de carne com molho teriyaki e cogumelo. Esse era meu jantar. Então é estranho voltar aqui.” Essa parte da história é completamente verdadeira. Ele tinha 16 anos quando saiu de Suffolk para uma vida puxada nas casas dos amigos de Londres. Construiu seu próprio caminho através da propaganda boca-a-boca, com shows onde ele não recebia um centavo, EPs lançados e vendidos por ele mesmo dentro de sua mochila, redes sociais e suas melodias carregadas de lágrimas, é claro. Ele perdeu a conta de quantas vezes tocou em casamentos e é como um Barry White para a geração do Facebook, uma comparação justa. Sheeran conta com um sorriso: “Eu estava jogando blackjack com um cara da Google e todas as vezes que eu perdia, ele pagava para eu voltar. Eu agradeci e ele disse, ‘Sem problemas, eu pego muita menininha com sua música o tempo todo.'”

PLUS

Em 2011 seu álbum de estréia, +, teve apenas duas boas críticas, mas vendeu tanto que aqui podemos mostrar um dos aspectos mais interessantes do fenômeno Ed Sheeran. Apesar de seu sucesso e seu comportamento simpático, existem algumas inimizades. Diga o seu nome em uma certa companhia (que na verdade, divide o mesmo teto com a gente) e as pessoas vão fazer caretas, emitir sons de desgosto e zombar de seu jeito acústico, além de compará-lo com vários criminosos. É na verdade um equívoco que seus dois álbums foram totalmente atacados pelos críticos, mas ainda há uma parcela considerável da população, na Grã-Bretanha especialmente, que reparam no número de cópias vendidas, nos discos de platina e nos cantores famosos que querem fazer parcerias com Sheeran. Ele acha isso chato?

“Eu não sei,” ele raciocina. “Sempre vão existir pessoas que acham que podem fazer algo melhor do que eu faço. Eu realmente gosto do meu primeiro álbum e na época me preocupei com o que disseram, mas não sei se me importo agora.”

Devemos também salientar que a raiva de alguns é bastante abstrata e sem sentido. Há de se concordar que Ed é de certa forma culpado pelos inúmeros “esquisitos” que aparecem no X Factor com um violão, tocando Lego House, e às vezes até forças bem-intencionadas acabam agindo contra ele. Em julho, seu lugar no top da música negra da Rádio 1Xtra causou furor e controvérsia, de forma que ele foi novamente criticado em vários jornais, onde o comparavam de maneira irônica com James Brown, dizendo que o ruivo queria se igualar ao rei da música negra.

“Bom, a lista era composta de pessoas que estavam nas playlists deles,” Sheeran disse. “Eu fiquei puto com a forma que algumas pessoas reagiram e também com o jeito que falaram. Mas além das colaborações, foi a primeira vez que uma música minha entrou na programação da Rádio 1Xtra. Eu não estava muito apavorado, mas preferi manter minha boca fechada durante aquela situação, porque a gente não quer jogar gasolina no fogo.”

É uma resposta tipicamente magnânima para uma comoção boba e faz todo o sentido quando se considera a “música” e o “álbum” que ele estavam criticando. Um soco duplo que talvez fez as pessoas pensarem nele de forma diferente ao que Ed chama de “cantor deprimido que só escreve músicas de amor”.

MANTENHA-SE CONECTADO

Lançada em abril e recebida por gritos de “Ai meu Deus, parece Justin Timberlake!”, Sing – a música irresistível gravada em parceria com Pharrell que acabou se tornando a mais escutada, vendida e reproduzida do Reino Unido – foi um divisor de águas na carreira de Sheeran. Olhando por fora, foi o momento em que tudo mudou, ou pelo menos mexeu muito com o estilo de garoto chorão deslocado. A verdade é que esse foi o culminar dos três anos de situações estranhas – A viagem para Compton, a apresentação no Grammy com Elton John, a turnê com Taylor Swift, a parceria com a divindade do rock e do hip-hop Rick Rubin – Isso fez com que o garoto em camisetas amassadas e colar de surfista parecesse mais legal do que nunca.

“Eu acho que esse álbum mudou bastante as opiniões negativas que algumas pessoas tinham [sobre mim]”, ele admite, enrolando mais um cigarro junto com sua equipe e tentando encerrar nossa conversa. “Eu não tenho certeza se eles sabem onde me colocar agora.” Evidentemente, ele está gostando dessa mudança toda que está acontecendo em sua carreira e imagem pública. Bebendo martinis na estréia d’O Hobbit em Berlim (“Eu bebi tanto que me encostei em um guarda-roupa e achei que ele estava vibrando como uma geladeira”), saindo com o rapper Rick Ross (“Quando me levaram até ele, ele estava sem camisa e começou a encarar minhas tatuagens”), colaborou com a indústria de água engarrafada de Ibiza, bebendo litros depois de uma viagem ruim (“Ecstasy não é algo que as pessoas devem usar, mas eu senti que deveria experimentar”) e se divertindo com estrelas como Paul McCartney e Ty Dolla Sign.

Então, ele continuou falando sobre suas músicas, entre elas, Don’t, uma melodia com pegada gospel um tanto quanto inconfortável, pois fala sobre o curto relacionamento de Sheeran com Ellie Goulding, onde ela o traiu com alguém que pode ou não pode ser um dos cinco membros da boyband britânica One Direction. “Eu estou bem no momento, então acho que não vou escrever outras músicas como essa,” ele disse, provavelmente respondendo a mesma coisa pela 354 vez.

Bem longe das acusações de ser um artista sem graça e protegido das críticas. Ele claramente não está prestes a subir em um jatinho particular chamado Ed Força Um (“Eu só vôo com aviões particulares quando alguém está pagando”), mas será que ele gosta dessa vida de rockstar? Tipo alugando filhotinhos de cachorro para brincar no hotel?

“Isso é rock’n’roll?” ele perguntou, ficando um tanto quanto vermelho. “Acho que alugar filhotes é a coisa menos rock’n’roll do mundo. Eu gosto de aproveitar meu sucesso com minha gente. Eu levei todos os meus primos para Vegas recentemente e nós pegamos uma sala particular para jogar e fazer apostas. Então fomos pra essa boate com uma mesa inteira de bebidas de graça e quando vi, estava com meus quatro primos fazendo rap e usando uma pickup pra fazer hip-hop com Macklemore. Digamos que se você estava lá aquela noite, teria ficado puto, pois pagou caro para ouvir um bando de irlandeses bêbados cantando Nate Dogg.”

A BANDA DE UM HOMEM SÓ

Com o show se aproximando, deixamos Sheeran e fomos para fora conhecer suas fãs – que haviam triplicado em número e iam de adolescentes histéricas à pessoas de meia idade que você com toda certeza não esperava ver ali. Então, porque você gosta dele? Bem, além de um rapaz de 20 anos chamado Pete, que sugeriu que haviam homens ali apenas porque a concentração de garotas era muito grande, parece (previsivelmente) que a audiência se aproxima devido ao talento e autenticidade de Sheeran. Sem rodeios, ninguém se preocupa se está parecendo exagerado demais ao dizer que “Ed é o cara”. Mas a super-fã Aashna de 14 anos declara: “Ele escreve músicas sinceras e não parece nenhum pouco arrogante ou incomodado com a fama.”

E então ele subiu no palco, vestindo uma camisa xadrez desbotada e recebido por gritos insurdecedores. O lendário “cara com um violão”. Outra parte do apelo de Sheeran, vem é claro, de seu show ao vivo. Ele faz tudo sozinho, utilizando apenas um loop pedal para organizar cada música em camadas – acordes, batidas, backing vocals, beatboxing, até mesmo rap – tudo junto em forma de uma onda sonora que te faz duvidar que venha de apenas um homem só.

É hipnotizante assistir ele correr de um canto ao outro do palco, mexendo em pedais, trocando violões e gravando diferentes faixas de áudios em vários microfones. Como se cruzasse um louco com os caras do Stomp. E somente alguém muito cínico e com um coração de gelo poderia não ficar tocado pela apresentação. Os refrões chegam a arrepiar a pele, o carisma é contagiante. Sim, chega a ser vergonhoso assumir, mas é impossível não cantar junto à todos quando Ed pede que a multidão assuma o refrão, quando filma a platéia e manda o vídeo direto para seu Instagram, emendando com um cover de Everybody (Backstreet Boys). Mas isso é maravilhoso, quando se percebe que a maior interação vinda de artistas hoje em dia é um tímido e sem graça “Olá Londres” no início de cada show.

A multidão faz sua parte, todos nas mãos de Sheeran. Garotos cuja aparência jamais confessaria que gostam de Ed Sheeran cantam junto com o ruivo e se perdem no momento, enquanto fãs que se intitulam “Sheeranator” e “Sheerio” erguem os braços no alto carregando varinhas que brilham no escuro enquanto gritam junto à grade. “Meu nome é Ed e meu trabalho é entreter vocês pelas próximas duas horas,” ele explica. E de repente tudo faz sentido. Toda a improbabilidade do começo da carreira, a sua ascenção, seu lugar vip no topo do que chamamos de ‘Empire State Building’ do pop. Ele não é mais o garoto estranho, nerd, preso em sua concha. O homem é um rockeiro com swag, cujo talento está no sangue, nasceu para performar. Um vocalista em um corpo de um produtor. E talvez esse seja sua arma secreta.

“Elton John não parece um pop star convencional, Lionel Richie também não. Adele? Também não. E talvez seja isso que os torna grandes. Em outras palavras, as pessoas só podem se conectar à você se você agir como é de verdade, ou ninguém vai lhe conhecer de fato.”

 

Fonte: Shortlist Magazine
Tradução e adaptação: Ed Sheeran Brasil

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