Foi numa sala do, RAK, famoso estudio de Londres, que Ed Sheeran gravou seu novo álbum, intitulado X. Estivemos com ele em uma das sessões em março para conferir o processo e entrevistá-lo.

O diretor da gravadora levou todos para um pequeno palco e dar início à reunião de figurões da indústria fonográfica e alguns convidados da mídia.
Sem demora, Ed apareceu. Ele é realmente como um leãozinho fofo e animado, como sua reputação sugere. Mas é claro que ele está apreensivo e aparenta isso, mexendo no cabelo com mais frequência que o habitual e cruzando os braços várias vezes; o novo álbum levou muito tempo para ser feito, até mesmo refeito.

O rapaz de 23 anos de Suffolk apresenta a seleção de músicas escolhidas para o disco, uma por uma. A primeira que escutamos se chama “One”, escrita por ele em um camarim enquanto estava em turnê pela Austrália. É a “última música sobre a pessoa que inspirou meu primeiro álbum”, ele disse. Também acrescentou que One serviu para encerrar aquele período, além é claro, do relacionamento.

Então surge Sing, o primeiro single. É bem “diferente”, o que é bom e de certa forma lembra uma mistura de One Direction com Justin Timberlake. Nada surpreendente, quando lembramos que Sheeran – um compositor de mente fértil, tanto para ele quanto para outros artistas – escreveu músicas para One Direction e colaborou com o produtor de Timberlake, Pharrell Williams justamente para essa faixa.

Ouvimos também Don’t, destaque do álbum e segundo single. É uma música nascida da frustração, contada em forma de palavrões e muitos detalhes sobre sua breve relação com outra artista famosa do momento, que acabou o traindo com outro popstar. “Eu sei que vou receber alguns emails raivosos depois disso”, Ed disse sorrindo de forma triste.

Agora com o violão, Ed tocou algumas músicas, começando por I’m A Mess, que segundo ele, foi “escrita durante um banho”. Já Thinking Out Loud é sobre sua nova namorada, Athina ANdrelos, que trabalha com Jamie Oliver. Ele cantou com os olhos fechados e enquanto sentia a vibração do violão, batendo em seu corpo com os nós dos dedos.

Ele então tocou Photograph, música mais “intensa” do álbum, por assim dizer. “O resto é uma merda, nós podemos vender com essa aqui,” ele disse. É o típico estilo de Sheeran: atitude aliada à humildade. É uma combinação vencedora, que entrega muito da ambição e autoconfiança de Ed, mas também deixa espaço para que os outros o vejam como aquele ruivo fofo do começo da entrevista, fazendo todos exclamarem um grande “awwww” durante a performance.

Por fim, ele apertou “play” novamente em Sing. “Eu vou deixar vocês com o single de novo, só pra garantir que não vão esquecer…”

Pocket show encerrado, Ed desceu do palco para conversar conosco. Ele me disse que Benedict Cumberbatch poderia participar de seu clipe, Sing, dançando um pouco de hip hop. Ed deu uma volta pelo local, brincando com os presentes fazendo todos na sala rirem.

Essa é uma habilidade adquirida a pouco mais de três anos pelo ruivo e aperfeiçoada durante o ano de 2013, onde fez parte da turnê americana da cantora Taylor Swift e também pôde tocar três shows com bilheteria esgotada no enorme Madison Square Garden em Nova York, impressionante para um garoto sem banda com apenas um violão.

Nove dias depois eu encontrei Sheeran novamente. Ele estava pelo centro de Londres, divulgando seu álbum por mais de oito horas apenas naquele dia. O alvo? Jornais do Japão, Austrália e “todo o resto da Europa” como ele mesmo disse. Eu não pude deixar de perguntar quais eram os temas mais frequentes durante as entrevistas.

“Como surgiu a parceria com Pharrell,” foi sua primeira resposta. “Essa é a chave de tudo, já que tudo que ele toca, vira ouro, todo mundo quer falar dele. Então é… Pharrell. Rick Rubin também.” Rubin é um grande produtor americano que trabalha com diferentes artistas, de Beastie Boys à Adele. “Esse é o tema principal da conversa. Também perguntam sobre o que eu tenho escrito e coisas assim.”

Ed explicou que sua agenda para os próximos meses está lotada com viagens para diferentes países, entre eles Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e alguns da Europa, para divulgar seu novo trabalho. Ele entende muito bem como as rede sociais funcionam e como elas o ajudaram chegar onde está, mantendo o olho sempre treinado para buscar novos horizontes em outros países. Ele está feliz de que a Europa finalmente está se sobressaindo à América quanto ao lançamento de novos artistas, criando uma base de fãs firme e forte ao redor do globo. Ele atribui todo o sucesso à I See Fire, música composta e gravada por ele para os créditos finais d’O Hobbit. Recentemente Spotify lançou uma nota onde diziam que essa música foi a mais transmitida do site desde que foi lançada, ultrapassando as visualizações de Happy (de Pharrell para Despicable Me 2) e também Let It Go, do premiado Frozen.

“Foi bem estranho,” ele disse enquanto fugia comigo para fumar um cigarro. “Todas as músicas fizeram muito sucesso aqui. Lego House, A Team, Give Me Love… Todas elas foderam com os outros artistas aqui na Europa. Aí a que você realmente esperava que fosse derrubar todo mundo, não faz nada.” Ele riu, “Mas eu acho que I See Fire ficou no top 3 da Alemanha por doze semanas. Isso nunca havia acontecido lá antes. Então é, é estranho.”

O lançamento do novo álbum estava a apenas dois meses de distância no momento da entrevista. É uma gravação cheia de expectativa, especialmente no Reino Unido e na América. Sua associação com One Direction e Taylor Swift sem dúvida alguma alavancaram sua carrera. Será esse o momento em que as mentiras e podres da mídia vão aparecer? “Eu não sei”, Ed respondeu, suspirando profundamente como quem pondera. “A imprensa pode ser bem cínica, especialmente o rádio. Então acho que a guerra está prestes a começar. Minha base de fãs, além de ser de alta qualidade, são bem abertos quanto às músicas que ofereço. Já com a TV e o rádio, não posso garantir. Muito menos com a imprensa. Então sim, a guerra começou, isso de tentar convencê-los.”

Por falar em cinismo, do que a mídia te pinta, quando quer passar uma imagem negativa de você? “No momento? Antes de Sing ser lançado? Deixa eu ver… Um cantor de baladinhas que escreve coisas fofas falando de amor para adolescentes. O que não deixa de ser mentira, mas é um ponto de vista um pouco distorcido de alguém que com toda a certeza não é meu fã. Eu nunca fugi disso, das músicas que falam de amor, porque eu sei que posso escrevê-las bem. Mas esse novo disco é bem diferente. Um passo à frente de tudo que eu já fiz. Testei algumas coisas novas, pensei fora da caixa e saí um pouco da minha zona de conforto.”

Seu primeiro álbum, ele não deixa de mencionar, foi escrito quando ele tinha apenas 17 anos “e feito durante viagens pela Inglaterra. Já o novo, também foi feito basicamente enquanto eu viajava, mas em proporções muito maiores. Eu agi como uma esponjinha, absorvendo influências de todos os lugares que eu visitava. Ou seja, trabalhei com todos os gêneros, principalmente quando estive nos Estados Unidos.”

O novo vídeo, que contaria com a participação do favorito das garotas, Cumberbatch, também fala da maior ambição de Sheeran para o clipe, que infelizmente, não deu certo.

“Cara, a história do Cumberbatch,” Ed suspirou “Ele estava totalmente comprometido com nosso clipe, eu jantei duas vezes com ele. Seu agente aqui no Reino Unido disse sim, eu o encontrei nos Oscars e ele estava tão animado quanto nós, mas na última hora, o agente americado deu pra trás.”

Porque isso poderia manchar o status de ator sério que ele carrega?
Sheeran disse que não, mas para mim, soou como um sim. “Ele é um ator de classe. É o próximo Daniel Day Lewis, na minha opinião. Ele vai ser um dos grandes e o agente americano disse que esse não é o momento certo para ele fazer um clipe. Pra ser honesto, eu meio que concordo. Mas achei que ia ser genial ter ele com a gente, dançando, fazendo um pouco de hip hop.”

Um mês depois, eu vi Sheeran novamente. Era feriado de cinco de maio. Ironizando o título de seu disco, nessa semana, Ed foi “multiplicado”. Ele começou o dia com um pequeno show em Ipswich e terminou com uma apresentação extraordinária em Dublin, além de tocar durante a tarde para aproximadamente 1400 fãs histéricos (na maioria garotas) em Camden, Londres.

Ed nos palcos é uma figura, pulando de lá para cá nos pedais do violão, criando harmonias e brincando com os acordes e batidas feitas por ele mesmo.

Sem dúvida alguma, ele é um showman. E novamente, essa é uma habilidade adquirida em sua adolescencia. Filho de um professor de história da arte e de uma artesã que fabrica jóias, desde cedo ele foi inserido no meio musical. Seu irmão Matt, dois anos mais velho, também trabalha com música (ele produz trilhas sonoras para documentários), mas buscou um caminho diferente, estudando composição em conceituadas escolas inglesas.

Sheeran admite que na escola ele “perdia o foco… Meu pai sempre puxava minha orelha por não dar duro. Mas não era isso – é só que eu não via sentido em estudar pra certas coisas. Assim que descobri a música, comecei a trabalhar como nunca e aí sim, dar duro. Mas quando você está tentando ensinar trigonometria para uma criança e ela te pergunta ‘quando eu vou usar isso?’ e ninguém tem uma resposta…” Ele sorri. “Então é aí que dá pra perceber que não existe sentido nenhum nisso. Então eu nunca me esforcei muito na escola mesmo.”

Ed deixou sua casa aos 17 anos para viajar pela Inglaterra com uma mochila nas costas e um violão portátil. Tecnicamente, ele não tinha onde morar durante três anos, cochilando em sofás na casa de amigos que conheceu em pubs e boates. Quando ele finalmente conseguiu ganhar algum dinheiro, fruto de suas primeiras gravações em 2011, ele comprou uma casa em Suffolk. Seis meses atrás, ele comprou outra no sul de Londres. Mas raramente tem tempo de permanecer em qualquer uma das duas.

Seu estilo de vida itinerante não é feito apenas de velhos hábitos. Ele poderia ter lançado seu novo álbum em 2012 e relaxado por um período, mas decidiu atrasá-lo 18 meses para poder se concentrar em “entrar” na América. Era uma prioridade em sua vida. Porque ter sucesso nos Estados Unidos é tão importante?”

“Eu não sei,” ele começa. “É só uma dessas coisas… Eu sou uma pessoa muito competitiva. Quando eu vejo que alguém não consegue fazer alguma coisa, me faz querer tentar mais ainda. E depois, eu sentia que a América era essa jóia rara jamais tocada por artistas europeus. Mas aí Adele apareceu e derrubou as paredes, junto com One Direction e Mumford & Sons. Aí eu percebi que era possível, porque outras pessoas estavam fazendo. Então,” Ele sorriu novamente, “eu precisava ir para lá.”

Sheeran parece aliviado de saber que seu álbum será lançado em poucos dias. Teve uma época, ele admite, no final do ano quando ele quis lançar tudo repentinamente. Ele havia finalmente encerrado a turnê e se sentiu perdido. Então percebeu que um disco inteiro produzido por Rick Rubin não era exatamente o que ele estava buscando. Não naquele momento. “Seria ótimo para o terceiro álbum… Mas isso não funciona nas rádios pop. E eu ainda faço parte desse mundo.”

Então ele descartou algumas músicas e começou a escrever outras novas. Então no começo do ano, ele conheceu Athina e se inspirou o suficiente para escrever I’m a Mess e Thinking Out Loud. O álbum estava finalmente completo.

“É basicamente a narrativa perfeita dos últimos três anos da minha vida,” ele admitiu. “Muitos altos e baixos.”

Sing foi uma excelente escolha para voltar às rádios. Mas Sheeran confessou que essa decisão foi “muito discutida”. De fato, houve um momento em que ela nem estava na lista de músicas do disco. Ele ficou com medo das fãs adolescentes, apaixonadas pelas suas baladas, não gostarem da vibe enérgica da música. Por sorte, ele tinha amigos muito famosos e influentes para opinarem.

“Elton John veio em nosso escritório ouvir o álbum,” ele disse. Sheeran é acompanhado de perto pela produtora de Elton, Rocket. Então ele tocou Sing para o veterano, apresentando como uma música para projetos futuros, onde ele gostaria de fazer um álbum inteiro com Pharrell.

“E Elton disse: ‘você é retardado se não colocar isso no disco. Esse é o teu primeiro single.’ Então ele plantou essa semente na minha cabeça. Aì, fui jantar com Pharrell mais ou menos um mês atrás…”

Pharrell também disse que Sing deveria ser a música principal de trabalho, assim como Taylor Swift, que disse que Ed seria louco se escolhesse One em primeiro lugar. Ela disse que “isso vai… não entediar as pessoas, mas só satisfazê-las. Mas você precisa que elas falem, precisa causar burburinho. E se elas ouvirem Sing, das duas uma, ou vão amar ou vão odiar. De qualquer forma, vão estar falando sobre isso.”

Pode parecer que Sheeran é apenas mais um com contatos famosos. Mas novamente, ele se afasta desse tipo de coisa. As pessoas que estão com ele são realmente suas amigas e muito criativas, assim como seus produtores. E, eu suspeito, Ed é tão louco que uma parte dele ainda não deve acreditar que ele chegou onde está, primeiro nome nas paradas, na lista telefônica de gente como Elton, Taylor e Pharrell.

Entretanto, o ruivo continua trabalhando para outros nomes de peso, além de fazer bicos como cupido e conselheiro amoroso. No momento ele está compondo para Demi Lovato e Hilary Duff, além da nova boy band Rixton, Jessie Ware, Rudimental, Usher (sim, Usher!) e por fim o DJ em ascensão, Martin Garriix…

A quantidade de artistas que querem trabalhar com ele é notável, pois todos elogiam seu talento e buscam uma parceria, ainda que pequena, com o garoto ambicioso do interior da Inglaterra.
Enquanto estava com Ellie Goulding, Sheeran apresentou seu amigo Johnny McDaid da banda Snow Patrol para sua também amiga, Courtney Cox. Agora eles estão namorando, na verdade, noivos, tudo graças ao garoto sorridente que conversa comigo.

“Taylor e Elton são duas pessoas que eu admiro e escuto seus conselhos. Swift nunca errou um palpite, nunca. Então eu toquei para ela todas as músicas do disco, pedindo sua opinião.”

O que ela pensa de Don’t? “Ela disse que estava agradecida por nunca ter me deixado puto.”

O que ele acha que Goulding pensa da música? “Eu não sei,” forçando um tom de indiferença. “O que você acha?”

Eu acho que ela pode ter ficado chateada, porque mesmo que a música não seja sobre ela – e a mídia sugere que sim, é – muitas pessoas vão pensar em Ellie. “Eu acho que muita gente acha que é sobre Taylor. Eu dei uma entrevista para a Q Magazine ontem e o cara estava convencido de que era para ela.”

Há uma parte, no entanto que acha que a música é sobre seu amigo Harry Styles. “Não,” ele disse, então repetiu a negativa mais duas vezes. Mas em termos da mulher em questão, Ed foi cavalheiro o suficiente para avisá-la da música com antecedência.

“Eu só disse, ‘então, tem uma música.’ E eles disseram ‘nós esperávamos por isso.’ ‘Por causa da situação. Você sabe, eu não menti em nenhum momento. É cem por cento verdade. Na realidade, eu omiti algumas coisas. Mas na minha cabeça, pra mim, eu disse o suficiente na letra. E o fato de que tudo vai permanecer anônimo,” ele disse, talvez tentando se convencer de que sim, ninguém saberia os nomes envolvidos, “é bom para mim, eu escrevi uma música sobre tudo e fui completamente sincero quando escolhi as palavras.”

Ele sorriu. Então, em teoria, a música é uma forma de dar o troco, já que além de single, ela foi escolhida para a campanha de divulgação dos novos fones de ouvido da mundialmente conhecida e venerada Beats?

“Mais ou menos. Eu não guardo rancor. Eu superei tudo. Estou bem com a situação, embora tenha sido como um insulto à mim na época. Eu só achei que também precisava me expressar, eu acho.”

Então não existem mais músicas fofas para adolescentes… “Sim… Ah cara, essa não é a primeira vez que a gente fala sobre isso, né? Mas você acha que outras pessoas vão pensar da mesma forma que você?” ele parecia preocupado. “Sim. Mas eu ainda sou muito, muito, muito próximo de Harry e pode ter certeza que a música não tem nada a ver com ele.”

No final das contas, Ed Sheeran sabe qual o tipo de artista que ele quer se tornar. Mesmo com muitos amigos famosos, ele é um cara simples, do povo. E por falar em povo, ele insiste em dizer que é com os fãs que seu coração repousa, além de suas vendas, é claro.

“É sempre errado ver sua carreira do ponto de vista que as revistas pintam. São pessoas reais que compram meus discos. São pessoas como Jenny em Stoke ou Jasmine em Glasgow. Pessoas reais ao redor do país, do mundo. Então eu nunca dou muita bola para o que as revistas pensam de mim. Porque isso realmente não me afeta muito.”

Ainda assim, existe um lado preocupado de Sheeran que logo se manifesta, afetando um pouco toda sua positividade. “Eu só espero não receber muito ódio por culpa daquela música, ou processos…” ele diz, ficando levemente vermelho.

X será lançado dia 23 de junho, através da Asylum Records. Sing já está à venda na iTunes store de todos os países.

Fonte: The Telegraph
Por: Ed Sheeran Brasil



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